O buraco
O mundo afundou no poço do oco da terra
O buraco ficou sem fundo
O buraco não tinha cor
Era uma estrela congelada e invisível
Que não tinha nome
Botaram nome na estrela
O nexo mais profundo e exposto do que existe na terra
O fundo da terra é preto
O fundo do mar é preto
O preto que faz o reboco da terra afundou no poço
O vestido da menina que vai ao baile é preto básico
O fundo do buraco é sem cor
Se é negro o buraco sem fundo
Se o negro não existe
O buraco inexiste
Entretanto, ninguém escapa de um buraco negro
A luz que fica lá dentro sem sair
Atrai estranhas gravidades
Atrai estranhas velocidades
protomutâncias
um pêndulo entre deus e o metal
uma fé ressentida entre o bem e o mal
uma relíquia indecifrável no pulmão oco do espaço
um tropeço esperado do próximo passo
O seu buraco
sou eu!
Sérgio São Bernardo
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