Tem algo de novo no reino dos mandingas e marotos...

Existe uma onda se delineando no cenário político baiano: o aparecimento de candidaturas negras com forte densidade política e com grandes chances eleitorais. De logo, vou logo explicando que o que entendo por chance eleitoral não se resume necessariamente á vitória eleitoral, mas, sobretudo, a uma boa presença na vida política do Estado nos próximos anos.

Fui formado sob um discurso político de que apresentar muitas opções representativas de segmentos vulneráveis - leia-se, negros, indígenas, mulheres, homossexuais, pessoas com deficiência etc. - aos espaços de poder político, era sinal de burrice estratégica. Não se podia imaginar que tivéssemos capacidade de eleger mais do que um candidato por segmento. Esta era uma atitude sempre tratada como secundária ou tática na luta política pela mudança ou pela preservação da ordem política. Racismo, sexismo, homofobia, extermínio de jovens negros, desenvolvimento do Estado versus igualdade política e econômica sempre foram temas táticos para muitas candidaturas negras.

Não se podia imaginar, segundo o receituário clássico em que muitos de nós vimos sendo formados(as), que dentro do movimento negro, ou melhor, dos movimentos negros, tivéssemos não um candidato, mas, muitos candidatos e candidatas com toda a pluralidade de pensamentos e representações que pode contemplar a maioria da população, em outras palavras, apostávamos que não era possível “dividir a base”, que era "equívoco estratégico", tudo na velha gramática da política tradicional.

A questão é que estas pessoas tem se revelado como excelentes militantes da causa negra e excelentes profissionais nas suas respectivas áreas de intervenção profissional e social. Então, sua condição social de homens e mulheres negras, não se revela apenas como um atributo de sua existência planetária, mas, aparece como um lugar de fala onde estes novos protomutantes de uma política que se renova para todos os pólos estão apenas confirmando uma velha tese: em política não existe espaço vazio.

Nilo Rosa, Leo Kret, Luiz Alberto, Valmir Assunção, pré-candidatos a Deputado Federal. Ivan Carvalho, João Jorge, Edvaldo Brito, Pré-candidatos ás vagas do Senado Federal e Sérgio São Bernardo, Bira Coroa, Gilmar Santiago e Olivia Santana, pré-candidatos a Deputado Estadual, possuem uma característica em comum: todos irão testar suas capacidades eleitorais e falar a um público cada vez mais complexo e multifacetado em linguagens e exigências.

O desafio colocado é termos uma prática política que se assemelhe a um discurso inovador e uma ação política pautada na transparência, altivez, conteúdo político, visão histórica e vontade de mudar a velha Bahia.

Estas candidaturas são polêmicas e possuem especificidades distintas, mas podem ser singularizadas num contexto de quebra de grilhões dos grupos tradicionais que falam e ditam o DNA do próximo líder negro que irá nos representar no parlamento. Muitos, no passado, foram trucidados no primeiro ringue. Agora o sintoma é de quantidade como reflexo de qualidade. Enquanto uma casta baiana prefere fazer fuxico em mesa de bar, pensamos que o debate público sobre o futuro da Bahia vem bem. O jeito é arregaçar as mangas, entender o cenário e abrir o bom debate sobre o futuro da Bahia, certos(as) de que estamos por nossa própria conta... É bom que sejamos muitos e muitas...

Felipe da Silva Freitas – militante do PT, membro do Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UEFS e conselheiro estadual de juventude.

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